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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mubarak controlou o Egito com mão de ferro por 3 décadas

Aos 82 anos, Hosni Mubarak parecia ser mais um líder árabe a ficar no poder até a morte ou deixar o governo de herança a um dos filhos, como é tradição no norte da África e no Oriente Médio. Após três décadas no poder, com apoio dos EUA, o homem que escapou de seis atentados não resistiu à força das ruas. Após 18 dias de protestos, o presidente egípcio renunciou nesta sexta-feira (11), abrindo caminho para esperanças e incertezas no Egito.

Mubarak assumiu o Egito em 1981, oito dias após o assassinato do ex-presidente Anwar el Sadat, morto por oficiais do Exército descontentes com o acordo de paz assinado com Israel. Com o tratado, o Egito foi o primeiro país árabe a reconhecer o Estado judeu (hoje também reconhecido pela Jordânia). Tornou-se, assim, uma espécie de guardião de Israel e garantia de estabilidade para a região repleta de petróleo e inflamada por extremistas.

Casado com uma britânica, Suzzane Mubarak, o militar que foi primeiro-ministro de Sadat assumiu o poder com mão-de-ferro. Desde 1981, Mubarak governava o país sob Estado de sítio (ou seja, sem a garantida de direitos fundamentais, uma ditadura na prática). Apesar do regime autoritário, era um aliado e até considerado amigo por autoridades do Ocidente, sobretudo dos Estados Unidos.

As três décadas no poder fizeram crescer a fortuna pessoal de Mubarak. Embora não existam números oficiais, o patrimônio do líder egípcio é equivalente a R$ 117 bilhões (US$ 70 bilhões), segundo o jornal The Guardian.

Carona para primeiro-ministro francês e amigo dos Clinton

Acuado pelos milhares de manifestantes, que há 18 dias acampam na praça Tahir, no coração do Cairo, Mubarak viu o amplo apoio ocidental que tinha desaparecer.

Embora a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, já tenha chamado Mubarak de amigo no passado, o governo dos EUA passou a pedir uma transição ordeira no país. Outros países influentes, como a França, preferiram o silêncio – inclusive depois que se soube que o primeiro-ministro François Fillon viajou de carona num jatinho de Mubarak.

À medida que cresciam os protestos na praça Tahrir, ninguém parecida disposto a defender o líder egípcio. Uma das poucas exceções do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, que classificou o egípcio como “sábio” - nos dias em que ele mesmo corre o risco de cair por causa de um escândalo sexual.

Perda de apoio dos militares foi crucial para a queda

Desde sua independência, em 1953, o Egito é um país estruturado no poder do Exército. Todos os presidentes foram militares. Mas após 30 anos de regime, a opinião no quartel não parecia ser toda favorável a Mubarak.

Pouco a pouco, as divisões nas Forças Armadas começaram a aparecer. O anúncio de que o Exército poderia reprimir os manifestantes nos protestos desta sexta-feira (11) parece colocado os militares contra a parede e forçado que eles definissem de que lado estavam. Nos últimos dias, as negociações eram feitas pelo vice-presidente, o militar Omar Suleiman, nomeado após 30 anos de cargo vago.

Após 18 dias de protestos, mais de 300 mortos (segundo a ONU), a revolta que explodiu inspirada na Revolução de Jasmim na Tunísia (que dias antes também derrubou o regime autoritário vizinho) atingiu seu primeiro objetivo – derrubar Mubarak. O golpe final, mais uma vez, foi dado pelo Exército, que ficou do lado dos manifestantes.

Para os EUA e Israel, o grande temor é que a Irmandade Muçulmana, o principal grupo da oposição, assuma o governo e transforme o país numa república islâmica. Mas líderes do movimento negam isso.

Se o Egito com o Mubarak era sinônimo de autoritarismo, o Egito sem Mubarak é um país com esperanças democráticas e muitas incertezas.

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