“Essas coisas a gente não esquece”, diz Bunia Kulish Finkiel. Aos 89 anos, ela se lembra em detalhes dos 495 dias em que ela, os pais e a irmã viveram escondidos num buraco cavado por eles mesmos sob um galpão, na antiga Polônia, atual Ucrânia.
Para Bunia, a inauguração do primeiro museu brasileiro sobre o holocausto em Curitiba, cidade que escolheu para viver, é uma oportunidade “para que todos conheçam verdadeiramente a história”. “O holocausto não é mentira, eu vivi isso na pele. Um dia, quando criança, um menino de uns 12 anos me cuspiu na cara e me chamou de 'judia suja'. Éramos nada. Todos podiam fazer o que quisessem conosco. E isso não se pode negar, não se pode dizer que não existiu”, afirma.
“Fomos salvos dos nazistas graças à boa vontade de uma família checa, que aceitou nos esconder e nos levava água e alguma comida duas vezes por dia.” Era agosto de 1942. “A matança de judeus na região começou logo depois, em setembro. No final, mais judeus vieram se abrigar conosco, eram 12, ao todo, num buraco em que mal se podia respirar”, relembra.
Quando saíram dali, em 9 de fevereiro de 1944, após a tomada da região pelo exército soviético, a mãe de Bunia ficou temporariamente cega, devido ao tempo passado na escuridão. “Estávamos maltrapilhos, esfomeados, sem roupa, sem nada. Voltamos para nossa casa, e então começaram a aparecer mais judeus, que também haviam se escondido para se salvar.”
A família deixou o norte da Europa atraída por uma vida nova no nascente estado de Israel. Mas, para chegar lá, era preciso tomar navios que faziam o transporte clandestino de judeus, e que não raro acabavam detidos pela marinha britânica, conta Bunia. “Estávamos em Roma, e uma sobrevivente do holocausto que trabalhava na embaixada brasileira nos deu vistos para o Brasil. Eu e meu marido chegamos aqui em 1947.”
Na região em que Bunia viveu, eram poucos os campos de concentração. “Só ouvi falar deles após a guerra”, conta ela. Mas Moshe Klein, pai do professor e psicólogo Percy Klein, esteve nos dois mais emblemáticos – Auschwitz e Buchenwald. Ele chegou a participar de uma marcha da morte –na qual os nazistas faziam os judeus caminharem por horas e matavam às centenas os que não não tinham forças para prosseguir ou tentavam escapar– e a fazer trabalhos forçados. “O Museu do Holocausto é de suma importância, pois os horrores do nazi-fascismo contra os judeus e outros povos não podem nunca ser esquecidos”, diz Percy, que vive em Curitiba.
Para Jaime Lerner, “visita obrigatória”
Descendente de judeus poloneses fugidos do nazismo em 1933, o ex-governador e ex-prefeito de Curitiba Jaime Lerner (PSB) diz esperar que o Museu “se torne visita obrigatória na cidade”. “Ele é fundamental, para que se saiba como aconteceu toda a barbárie (do holocausto), as consequências dela, o sacrifício de seis milhões de pessoas. Isso não pode ser esquecido, e jamais será, para que não aconteça novamente em lugar algum, contra nenhum povo. Para isso, contar o que aconteceu é fundamental”, diz Lerner. A imigração salvou os pais do ex-governador. “Os parentes de meus pais foram todos mortos (no holocausto).”
Editor do “Visão Judaica”, jornal mensal editado na capital paranaense, o jornalista Szyja Ber Lorber finaliza, ao lado da irmã Blima Lorber, também jornalista, um livro sobre a história do pai, David Lorber Rolnik. Polonês, David chegou a fugir para a Ucrânia, mas voltou à terra natal em busca de notícias da família. Descobriu que a mãe e os irmãos já haviam sido levados pelos nazistas – o pai, que estava em Varsóvia, escapou –, e acabou ele também preso.
“Era inverno, e meu pai foi obrigado a marchar junto com outros 2.600 judeus por mais de 50 quilômetros, sem comer ou beber, até a fronteira da Ucrânia, já dominada pela União Soviética, que então mantinha um pacto de não agressão com a Alemanha. Só uns 200 sobreviveram à marcha. Chegando lá, meu pai e alguns outros conseguiram fugir. Tempos depois, ele acabou preso pelo Exército Vermelho, e acabou tendo de viver em vários gulags, os campos de trabalho forçado soviéticos”, narra Lorber.
Depois de solto, David acabou por imigrar para o Brasil, onde criou a família em Curitiba. Mas ele só voltaria a ouvir notícias do pai, que não via desde que fugiu pela primeira vez da Polônia, muitos anos depois. “Era 1958, me lembro bem por causa da Copa do Mundo da Suécia. Um dia, estávamos na escola, ouvindo um jogo, e meu pai chegou para me buscar, dizendo que meu avô, também chamado Szyja, havia sido encontrado, vivendo em Israel”, relembra o jornalista.
“Dizem que nós, judeus, vivemos a nos lembrar do holocausto. É verdade, mas é preciso que nunca se esqueça a que ponto chegaram o ódio, a intolerância. Por isso, o Museu do Holocausto é uma iniciativa excelente. As novas gerações, que não viveram os anos da guerra, precisam conhecer essa história, para poderem se vacinar contra a intolerância, seja ela qual tipo for”, diz Lorber.
1 comentários:
Quando vão fazer um Museu de holocausto para os 7 milhões de ucranianos e o resto de 100 milhões de cristãos mortos no Gulag comunista-judaico e seus assassinos comunistas judeus Lênin, Trotsky, Kaganovich, Frenkel etc. que exterminaram 100 milhões de pessoas?! Nunca vamos esquecer! Nunca vamos perdoar capitalista o judeu Karl Marx, criador do comunismo judaico com 100 milhões de cadaveres!
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