Ratko Mladic, ex-general servo-bósnio acusado pelo massacre de 8.000 muçulmanos e de vários crimes de guerra e contra a humanidade, se recusou a declarar-se culpado das acusações, classificando-as de "repugnantes e monstruosas". Ele também assegurou que é "um homem muito doente" e solicitou o prazo de um mês para preparar sua defesa.
As declarações foram feitas nesta sexta-feira (3) na primeira audiência no Tribunal Penal Internacional para a Antiga Iugoslávia (TPII), em Haia, na Holanda, para onde Mladic foi extraditado e deverá ser julgado por 11 acusações com origem em sua atuação na Guerra da Bósnia (1992-1995).
Com aspecto envelhecido, o suposto criminoso de guerra escutou com seriedade e durante muito tempo, com os olhos fechados, o resumo da acusação que o juiz holandês Alphons Orie leu na sala.
Ao final, o ex-líder militar considerou as palavras "monstruosas" e garantiu não ter ouvido falar de acusações desse tipo.
- Eu defendi meu povo e meu país. Eu sou Ratko Mladic. Não matei croatas como croatas. Também não matei ninguém na Líbia ou África.
O criminoso de guerra, conhecido como "Açougueiro da Bósnia", de 69 anos, foi preso em um vilarejo sérvio na última terça-feira (26), quase 16 anos depois de ser indiciado.
"Sou um homem gravemente doente"
Mladic também disse ser "um homem gravemente doente", e solicitou aos juízes uma sessão particular para lhes dar detalhes de seus problemas físicos. Sua saúde é uma das principais dúvidas para que o julgamento seja realizado sem atrasos em Haia.
O TPII assegurou que, enquanto ele estiver detido, o ex-militar servo-bósnio receberá os melhores cuidados médicos possíveis.
Enquanto isso, o advogado do acusado na Sérvia, Milos Saljic, declarou que Mladic sofre de um câncer linfático e está no hospital da prisão do Tribunal.
Supostas vítimas acompanharam audiência
Uma nova audiência de Mladic acontecerá em 4 de julho, quando o ex-comandante militar terá que responder sobre as acusações. A de hoje foi seguida por grupos de vítimas da guerra e do cerco à cidade de Sarajevo, deslocadas especialmente para a Haia, informou o jornal El País.
Ao contrário do ex-líder Radovan Karadzic, que optou por se defender, Mladic apareceu acompanhado por um advogado, que o guiou durante a sua abertura à Justiça internacional.
Segundo a imprensa da Sérvia, Belgrado não cobrirá os custos da defesa de Mladic. Já as autoridades da Bósnia-Herzegovina (sua segunda nacionalidade) tem reservado, supostamente, R$ 114 mil (50 mil euros) para pagar os advogados.
O filho do ex-general, Darko Mladic, disse que seu pai está bem e recebe tratamento adequado na prisão da ONU em Haia, sede do TPII.
Veja quais acusações Mladic enfrenta
A seguir, um resumo dos crimes de guerras atribuídos à Ratko Mladic pelo TPII:
- Genocídio e cumplicidade em genocídio: Por liderar forças sérvias bósnias, que massacraram 8.000 homens e meninos muçulmanos em Srebrenica, em 1995, e realizaram uma limpeza étnica de não-sérvios em cidades e vilas na Bósnia durante a guerra, entre 1992 e 1995;
- Perseguição: Por matar, torturar, estuprar, deportar e ilegalmente aprisionar muçulmanos e croatas;
- Extermínio, assassinato, tratamento cruel: Pela matança generalizada de não-sérvios nas cidades e vilas atacadas pelas forças sérvias bósnias e pela campanha mortal e bombardeios durante o cerco de 44 meses à capital bósnia, Sarajevo;
- Tomada de reféns: Por fazer reféns observadores militares das ONU e soldados de paz.
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