Após caminhada de 2 horas e 15 minutos entre barreiras, riachos, pedras, imensos troncos caídos, postes quebrados, lama, cheiro de animais mortos e, inacreditavelmente, travessias por cipós, a equipe de reportagem do R7 confirmou o cenário desolador em que se encontra o bairro Santa Rita, em Teresópolis, região serrana do Estado do Rio de Janeiro. A tragédia afugentou quase toda a população da localidade, que se tornou, praticamente, uma cidade fantasma.
Assim que a equipe chegou ao bairro Cruzeiro foi acompanhada pelo caseiro José Eduardo Silveira de Carvalho (que vive na Rua dos Jacarandás, no condomínio Cascata Encantada) por seu patrão, Marcos José dos Santos Lopes, residente no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio de Janeiro que estava vindo pela primeira vez verificar as condições de sua casa.
- Felizmente, minha casa está intacta. O máximo que aconteceu foi o muro de pedras que rodeava a piscina que caiu. Mas todo o resto está como deixei. Com exceção dos alimentos que ficaram na geladeira e se estragaram por que acabou a energia.
Além da destruição que se inicia já na chegada e se estende por pelo menos sete quilômetros – principalmente na margem do rio – os poucos moradores que ficaram têm que conviver com a falta de eletricidade, de comunicação, de água potável e de mantimentos, conforme foi possível comprovar assim que chegamos à residência do caseiro.
- Meus filhos não dormem em casa, eles foram todos para o emprego da minha mulher, em outro sítio. Não dava para eles ficarem aqui nessas condições, sem falar que minha filha de 15 anos não quer nem saber de voltar aqui, ela ficou muito assombrada com tudo o que aconteceu e com o que ela viu no dia seguinte.
Os que ficaram são quase todos pertencentes a famílias de caseiros, que, pelas condições simples, não têm outro lugar para se refugiar e nem a quem recorrer. A tragédia transformou a rotina desse grupo que tem que se arriscar diariamente em busca de mantimentos descendo do alto de Santa Rita até o posto de apoio, localizado na rua Antônio de Souza Maia.
Além disso, os acontecimentos deixaram alguns atordoados, conforme afirmou o caseiro, que perdeu a noção do tempo já que poucas vezes conseguem acesso ao noticiário da TV ou mesmo rádio.
- Tem gente que se esqueceu de ir trabalhar porque pensava que era domingo. Isso no meio da semana.
Os animais
A realidade que esse grupo está vivendo é desoladora. Em região ainda mais remota, há relatos de cavalos soterrados pela metade e outros que morreram e estão sendo devorados por insetos e outros animais. As vacas e bois que se encontravam em algumas propriedades nem eram mais vistos por lá. Todos foram literalmente arrastados.
Por todos os lados existem cachorros das mais diversas raças perambulando em busca de alimentos, todos deixados para trás por seus donos assim que o Exército, a Aeronáutica e a Polícia Civil começaram a aparecer com helicópteros e a retirar os moradores que quisessem deixar suas propriedades.
O excesso de folhas, lama, frutas podres, hortaliças, flores e animais mortos também trazem consigo formigas, besouros e dezenas de moscas, que se espalham por todo o percurso.
- Só em uma fazenda morreram 58 cavalos e em outra todas as vacas que produziam 20 litros de leite por dia foram arrastadas. É uma dó ver o que aconteceu com todos os bichos. Tinha cavalo que custava muito caro.
Caseiro relata drama
De acordo com o caseiro, na madrugada de terça-feira (11), choveu duas horas consecutivas, em quantidade e força que ele nunca tinha visto, nem ouvido. Por volta de 1h da manhã, José Eduardo acordou toda a família e deixou todos de “plantão”.
- Eu ouvia os gritos de socorro, eu ouvia as pessoas pedindo ajuda e não podia fazer nada. Achei que nem fosse conseguir salvar minha família. A água passou e destruiu todas as casas na margem do rio, outras foram soterradas pelos deslizamentos. As que ficaram foi porque Deus não quis derrubar, é só você observar, qualquer casa aqui poderia ter sido atingida.
O agricultor Francisco de Assis (que perdeu sua casa e as plantaçõe de azaleia, hortência, esponjinha e outras espécies de plantas e hortaliças) afirmou que o curso do rio foi modificado pela força da água. Segundo a equipe do R7 pôde observar, no lugar do antigo curso agora se encontra uma série de rochas e um morro, razão principal da mudança do trajeto da água.
- Apesar de tudo, vou continuar aqui. Não saberia o que fazer longe daqui. Aos poucos vou limpar tudo isso, vou refazer minha vida e plantar tudo de novo.
Mesmo ficando, o medo é relato comum entre os poucos encontrados.
- Se um bambu quebra, todo mundo corre achando que é tromba d´água. O ruim de lá é que perdi muitos amigos, mais de dez. Perdi a família do meu melhor amigo, de quatro pessoas. Essa é a nossa maior dor – disse o caseiro.
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
Cenário no topo do bairro Santa Rita, em Teresópolis, assemelha-se a cidade fantasma
06:15
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