Os trabalhadores negros têm poucos motivos para celebrar neste sábado (20), quando se comemora o Dia da Consciência Negra. Falta de estudo, capacitação profissional carente e ausência de seguros trabalhistas ainda fazem dessa população a mais sujeita a subempregos, vagas temporárias e ao microempreendedorismo por “conta própria” em São Paulo. Para conseguir um serviço, a indicação de parentes e amigos ainda é o modelo mais eficiente entre os negros: corresponde a 57% das vagas conquistadas dessa forma, segundo levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Econômicos) concedido ao R7. De acordo com Lúcia Garcia, coordenadora do estudo Os negros no mercado de trabalho feito com base nas pesquisas PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), o alicerce do trabalhador negro continua sendo a solidariedade. - Ele [o trabalhador] é muito mais um "por conta própria" do que um empresário, já que muitas vezes ele só conta com a força de trabalho avulsa. É como o pedreiro que trabalha de bicos e vive somente dos serviços que ele produz. Não é algo coletivo. como em uma empresa. A exclusão do trabalhador abre margem também para a dificuldade de acesso a benefícios trabalhistas, como o seguro-desemprego. A ausência da carteira assinada reflete a dificuldade em conseguir vagas com melhor remuneração, devido à falta de qualificação profissional. De acordo com o Dieese, o dado é contraditório, pois apesar dos negros serem a maioria nos cursos técnicos, eles são a minoria nas faculdades. - A cidadania está muito atrelada à carteira de trabalho. A partir do momento em que ele [o trabalhador] não a possui, não consegue ter acesso a licenças, o que retrata a concentração das mulheres no trabalho doméstico e dos homens na construção civil. Segundo Lúcia, as mulheres negras representam 10,6% nos empregos domésticos em São Paulo, enquanto as brancas são somente 5,6% - ou seja, a metade. Com isso, a procura por serviços públicos de intermediação de mão de obra, como o CAT (Centro de Apoio ao Trabalho) e o PAT (Posto de Atendimento ao Trabalhador), são as opções mais usadas pelos trabalhadores negros à procura de emprego. A escolaridade inferior à do trabalhador branco - em média, são 2,2 anos de estudo a menos, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) -, é causada pela entrada precoce do negro no mercado de trabalho, o que acaba por eternizar a condição de subemprego. A avaliação é do presidente da ONG ABC Sem Racismo e da agência de notícias Afropress, Dojival Vieira.
- Nós somos os primeiros a entrar no mercado por sobrevivência e somos os últimos a sair porque continuamos na informalidade. Há 128 anos, quando houve a abolição, os negros passaram a viver de bicos, o que persiste até hoje [...] Isso é retrato de um país que é a décima economia do mundo, mas que ainda exclui os direitos da maioria da população brasileira. A pobreza no Brasil ainda é negra.
sábado, 20 de novembro de 2010
Na sombra da informalidade, negros são maioria dos trabalhadores por conta própria em São Paulo
15:03
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